Utilizada como rota do tráfico de cocaína, majoritariamente vinda da Bolívia e que tem como destino não só o Brasil, mas também a Europa, Cuiabá enfrentou períodos de sangue devido às disputas entre as facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), que influenciaram no aumento da taxa de homicídios na Capital entre 2012 e 2015.
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Entretanto, após a reestabilização territorial do CV em 2016, o número de mortes violentas na Capital diminuiu, enquanto o interior do estado registrou um aumento drástico.
Um estudo publicado pelo Instituto Sou da Paz na semana passada, intitulado “Violência armada e racismo: o papel da arma de fogo na desigualdade racial”, detalha que, embora entre 2020 e 2022 tenha acontecido um sobressalto em relação à taxa de homicídios por arma de fogo, a Capital conta, nos dois últimos anos, com os menores índices em relação aos demais municípios de Mato Grosso.
“Por outro lado, no interior do estado, as variações foram menos bruscas e uma tendência de aumento da violência armada se afirmou nos três últimos anos (2020-2022). Desse modo, ocorre uma inversão e um novo cenário se anuncia, com o interior do estado respondendo pelas mais altas taxas de violência armada”, diz trecho do levantamento.
Esta situação também foi comprovada pelo 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em julho deste ano, que mostrou o município de Sorriso como a quarta cidade mais violenta do país
Em 2022, a cidade estava em sexto lugar pelo mesmo motivo.
Conforme o estudo, houve um aumento de 10,3% de mortes violentas na cidade no último ano.
Outros quatro municípios mato-grossenses que também foram destaque no anuário são Sinop, com 45,7 mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes; seguida de Cáceres, com 43,3; Barra do Garças, com 25,7; e Rondonópolis, que apresentou índice de 20,6.
“Chama atenção a situação de Mato Grosso, que apresentou o segundo maior crescimento (8,1%) no número de mortes violentas intencionais do país [assim como], apresentou um crescimento de 47% nas tentativas de homicídio, contra um crescimento médio nacional de 1,2% da mesma ocorrência entre 2022 e 2023”, apontou o anuário.
Pelos dados apresentados, o estudo aponta duas explicações para as mortes violentas intencionais, sendo a primeira associada às disputas de territórios e pontos de venda de drogas entre as facções, que não estão restritas apenas ao CV e o PCC, mas também à Tropa Castelar – que surgiu de uma dissidência do CV – e outras organizações criminosas consideradas menores.
Já o segundo motivo seria a atuação de milícias que controlam territórios de forma armada e violenta.
Atuação policial
Outro fator que contribuiu para a trajetória de redução da taxa de homicídio em Cuiabá, nos últimos 10 anos, foi a intensificação das atividades policiais, segundo a pesquisa. Entre 2017 e 2022, o Estado aumentou a presença da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e das forças de segurança locais, reforçando o controle das rodovias e intensificando as operações de combate ao tráfico.
“Esse aumento da repressão estatal contribuiu para a apreensão de grandes carregamentos de drogas e a prisão de figuras importantes do CVMT, o que, por sua vez, impactou a organização interna da facção na cidade, sobretudo nos anos de 2020 e 2022. Ainda assim, a despeito de maior presença das forças de segurança, o CVMT manteve seu controle sobre as rotas de tráfico em Cuiabá, adaptando suas operações para evitar a ação das autoridades”, aponta o estudo do Instituto Sou da Paz.
Além das rotas segundárias que cortam áreas rurais e florestais no entorno de Cuiabá, o que torna o controle logístico da cidade fundamental para o sucesso das operações do tráfico, o estudo declara que a facção “conseguiu estabelecer uma rede de proteção eficiente, que inclui desde a corrupção de agentes locais até o uso de drones e outras tecnologias para monitorar as operações policiais”.
Ao o novo comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso, Cláudio Fernando Carneiro Tinoco, disse acreditar na interiorização do crime organizado no Estado, pois tem acompanhado a “mancha criminal dos crimes que ocorrem em Mato Grosso”, mas afirmou que diversas operações policiais estão sendo realizadas no intuito de diminuir a atuação do crime organizado, em especial municípios do Nortão.
“Eu vou dar o exemplo aqui da cidade de Sorriso. Estamos com uma operação muito intensa naquela cidade e estamos conseguindo reduzir os crimes que estão acontecendo ali. São operações que nós temos tropas especializadas aqui de Cuiabá que atuam desde o início do ano passado, justamente para combater o avanço do crime organizado”, afirmou o comandante.
Soldado Elias
Comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso, Cláudio Fernando Carneiro Tinoco, durante a posse ao cargo Tinoco disse ainda que existem tropas especializadas, em “áreas extraordinárias”, para acompanhar a tendência do crime organizado nos municípios, destacando que, além da rotina diária das equipes de segurança, há o objetivo de antecipar ações das facções criminosas, por meio do serviço de inteligência, que “consegue avançar muito e trazer resultados”.
Questionado sobre disparidade entre a quantidade de membros de facções atuando no estado e de policiais no efetivo exercício, o comandante afirmou que atualmente não existem leis que “penalizam na medida certa e no tempo certo” e que a eficiência de uma instituição “não está no número de pessoas, mas sim no seu planejamento, desenvolvimento e capacidade de entrega“.
“Não adianta a gente investir em presídios, investir em equipamentos, investir em salário, em contratação, se eu não tenho uma efetividade na pena. Torna-se sem efeito. Então nós precisamos, sim, fazer um movimento, lógico, com muita prudência, com muito respeito, para que sejam revisitadas as nossas leis e que nós possamos levar a pena para essas pessoas o mais rápido possível e tirá-las de circulação”, afirmou.
Vale ressaltar que levantamento recente feito pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual, apontava que apenas o CV já havia triplicado o número de faccionados em menos de três anos, chegando a 30 mil membros no estado em 2023 – o equivalente à população de Poconé (a 100 km de Cuiabá), cidade portal do Pantanal no Estado.
Em contrapartida, atualmente Mato Grosso conta com 7.275 policiais militares ativos, conforme dados da própria Corporação.
Fonte: Folha5
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