Cáceres, 6 de outubro de 2024 - 18:50

Ferrovia e Porto de Cáceres devem reduzir os gargalos e impactar no preço final

Ferrovia-e-Porto-de-Cáceres-devem-reduzir-os-gargalos-e-impactar-no-preço-final

 Especialista explica como a falta de armazenagem e transporte impacta preços do mercado

 As dificuldades com armazenagem e transporte são os principais gargalos enfrentados pelos produtores e exportadores de grãos em Mato Grosso e impactam diretamente nos preços e nos lucros da comercialização, avalia o consultor especialista em grãos, João Birkhan. Melhorias logísticas como a construção da ferrovia estadual e o Porto de Cáceres devem começar a mudar esse cenário do setor no Estado, que depende do comércio internacional.

>>Clique aqui e participe do grupo de WhatsApp e receba notícias de Cáceres e região na palma da mão<<

 “O primeiro gargalo é o da armazenagem, pois se você vai colher no momento com um clima não tão favorável, em uma época com muita chuva, temos uma soja com excesso de umidade e tem que passar por secadora. Mas nós não temos essa capacidade instalada de armazenagem tampouco para poder secar muita soja”, explica.

 Isso acontece porque o Estado produz o dobro que consegue armazenar. Birkhan explica que essa falta influencia na imagem e nas negociações com o comércio internacional.

 “Nós fizemos uma imagem muito ruim com a colheita do milho. Não tínhamos onde botar, todo mundo comprou aqueles “bags”, aqueles sacos para colocar o milho, e essa foi uma alternativa, mas foi divulgado para o mundo inteiro: “O Brasil não sabe nem o que fazer com tanto milho” e isso derruba o mercado, tem um impacto no mercado muito grande. Se esse milho é colhido, vai para o armazém, fica escondido e vai sendo transportado é uma coisa, agora começar a divulgar que tem pilhas de milho na lavoura fora dos armazéns e isso tudo cria um impacto negativo muito grande para os preços, porque sobra de produto significa preço baixo”, argumenta.

Ferrovia-e-Porto-de-Cáceres-devem-reduzir-os-gargalos-e-impactar-no-preço-final
Reprodução

 Segundo analisa o consultor, que trabalha há anos com a exportação de soja, esse problema de armazenagem é maior em Mato Grosso que em outros estados. “Até porque nós somos os grandes produtores. No Sul, por exemplo, já está tudo estruturado, há armazenagem para tudo. Mas de Mato Grosso para cima são tudo lavouras relativamente novas, que crescem em uma proporção muito maior do que cresce a logística. Primeiro você abre a lavoura, planta e depois começa a instalar secadores e armazéns e a fazer estradas”, pontua.

 Como na maioria das vezes o produtor consegue colher o produto na umidade ideal dele, então não precisa da secagem, e aí o maior gargalo é a próxima etapa: o transporte.

 “Há três tipos de transporte interno, você pode transportar de caminhão que é o mais normal, trem pela ferrovia e barcaças. Se a barcaça custa 30, o trem custa 60 e o caminhão custa 100. E nós transportamos 90% pelo mais caro. Aí nós não temos boas estradas, ficam precárias, temos acidentes, estradas ficam fechadas horas e formam filas, tudo isso atrasa nossa logística”, pondera João Birkhan.

 Apesar da maior parte do transporte ser feita por rodovias, uma alternativa está sendo projetada com um Porto em Cáceres (a 220 km de Cuiabá), o Porto Paratudal, que está em fase de licenciamento e deve ser entregue em 2026. O terminal vai fazer parte de um sistema logístico de conexão de Mato Grosso às hidrovias Paraguai-Paraná para transportar grãos, fertilizantes e contêineres, além de outros insumos, e ligará à Bacia do Prata, conectando o Estado ao Uruguai e à Argentina, alavancando a exportação. De iniciativa privada, a obra custará um investimento de R$ 500 milhões.

 Esse terminal portuário deve impactar diretamente no setor, analisa o consultor. “Toda essa soja que sai por Cáceres tem que ir até a Argentina para carregar os navios, porque o navio grande não sobe para cá. Então tem que usar porta de terceiros, de outros países, mas vai ajudar muito para escoamento da soja do Paraguai também. Qualquer ponto de escoamento é válido. A soja que vai ser produzida na região perto de Cáceres prioritariamente vai descer de barcaça e isso impacta, porque tudo que nós tirarmos de transporte de caminhão ou reduzir é um ganho muito grande”, diz.

Como Birkhan enfatiza, cerca de 90% do transporte ainda é feito por caminhões e por isso é essencial uma melhor logística rodoviária. Ele avalia que o cenário das rodovias tem dificuldades em todas as regiões do estado, mas que em algumas ele está pior. “É difícil escolher onde não tem problema. O mercado de soja aqui em Mato Grosso começou em Rondonópolis, então essa região, assim como outras que estão há mais tempo já estão mais bem estruturadas, tem mais armazéns, as estradas são melhores. Aí fomos desbravando isso para cima, para o Norte, até Sinop, e avançando para os lados e é onde não temos a estrutura ainda”, esclarece.

 Além do Porto, uma outra opção para desafogar as rodovias e que tem um transporte mais barato é o transporte ferroviário. Por isso, a construção da primeira ferrovia estadual de Mato Grosso deve impactar diretamente no mercado. Serão 730 km de trilhos divididos em dois ramais: um que irá ligar Rondonópolis a Cuiabá e outro que ligará Rondonópolis a Lucas do Rio Verde, interligando à malha nacional, em São Paulo.

 “O escoamento pelo Norte é relativamente novo, hoje carregamos soja em Rondônia, em Miritituba, tudo em barcaça e vamos carregar tudo no Pará. Isso melhorou muito. Imagina levar tudo isso aqui pra Santos. Melhorou muito, mas ainda temos muito problema, porque tem que levar a soja até os lugares da barcaça. Tem os lugares que se carrega, por exemplo, em Porto Velho, Rondônia, e uma determinada região de Mato Grosso vai para lá de caminhão. A região de Sinop vai para Miritituba e tem que fazer o primeiro trecho de caminhão. Então com a ferrovia, essa logística será feita todo pelos trens e isso vai desafogar o transporte rodoviário, além de ter um custo bem menor”, afirma.

 Reprodução: RDNEWS

 Fique ligado no Cáceres News para todas as informações do dia-a-dia de Cáceres e Região.

Compartilhe nas redes sociais:

Facebook
Twitter
WhatsApp

Notícias Recentes: