Após receber o Título de Cidadão Cacerense em uma cerimônia organizada pelo Poder Legislativo de Cáceres na noite de ontem (23), o desembargador Paulo da Cunha emocionou a todos com um discurso marcante. Ele relembrou momentos significativos do passado e exaltou as glórias históricas de Cáceres, destacando a importância do município para a região e para o estado de Mato Grosso.
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Confira abaixo o discurso completo de Paulo da Cunha.
Com o andar dos dias, nossa vida vai se circunscrevendo a certos fatos que, por serem significativos, estão a merecer devida comemoração.
Certamente, em meio a eles, passarei a documentar, de hoje em diante, este com que nesta tarde de primavera me presenteia o povo desta cidade. Cidade que, além de ser-me cara, encanta quem passa a conhecê-la.
Por deferência da Câmara Municipal de Cáceres, gentileza que não vacilaria em classificar como algo indescritível, recebo o Título de Cidadão Cacerense. Dele me orgulharei pelos tempos em tempo. Afinal, trata-se de uma homenagem que passará a ornar, com realce especial, a galeria – singela sim, mas dignificante-de outras tantas com que venho sendo agraciado na marcha de minha existência.
Devo confessar-lhes: pouco me preocupam as palavras de que, neste momento, lanço mão para me dirigir a todos que, fraternal e afetuosamente, me acolhem nesta Casa. Com o coração é que lhes falo. E o coração enxerga longe.
Sem mais preâmbulos, levanto as mãos e O pensamento para o alto e agradeço as bençãos com que Deus, pai amoroso, me vem cumulando sempre. Sinto-me abençoado.
Desde que recebi a confirmação desta comenda, irmanando-me com o rol de pessoas que, privilegiadamente, nasceram neste solo, tentei entender conversando com meus botões – as razões que me identificassem com os quase 100.000 mil moradores de Cáceres. Carrego isto comigo: na vida, nada acontece por acaso.
Todos vocês, tenho convicção disto, conhecem um pouco da história que principiarem a escrever os primeiros povoadores de Cáceres, cidade que, no 6 de outubro passado completou 246 anos.
Por efeito de mera recordação, desfilo alguns lampejos desta saga cheia de incidentes, cravejada de heroísmo e de coragem.
O Tratado de Madri (em 1750) é uma peça chave da diplomacia lusa para se entender a criação de novas povoações, a Oeste do território da América portuguesa. Assim, em 06/10/1778, foi fundada pelo governador e capitão-general, Luis de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres a Vila Maria do Paraguai (em homenagem à rainha). Em 1779 seu nome foi alterado para São Luiz do Paraguai, e em 30 de maio de 1874 foi elevada à categoria de município, denominado São Luiz da Cáceres e que, mais tarde, em 1938, foi denominado simplesmente, Cáceres, nome esse que perdura até os dias de hoje.
Cáceres, (a Princesinha do Paraguai, como é carinhosamente conhecida), localizada à margem esquerda do rio Paraguai, era considerado estratégico pelos portugueses para o controle do rio na região, evitando-se o descaminho do ouro produzido em Vila Bela. Assim, passou por ciclos de crescimento político e econômico no decorrer de sua história, intermediados por períodos de decadência e estagnação.
A navegação pelo Rio Paraguai, após o término da Guerra da Tríplice Aliança em 1 870, desenvolveu o comércio com Corumbá e outras praças, e o incremento das atividades agropecuárias e extrativistas fez surgir os estabelecimentos industriais representados pelas usinas de açúcar e as charqueadas. A fazenda Descalvados, localizada a 100 km da cidade de Cáceres (via rio Paraguai), tinha empastado gado calculadamente 300.000 cabeças, produzindo charque e exportando para o mercado europeu, especificamente a Bélgica. A fazenda Jacobina, localizada a menos de 20 Km da cidade de Cáceres, possuía em média 60.000 cabeças de gado. As fazendas
Barranco Alto, Porto do Campo, Palmital, São João, Taquaral, entre outras, respondiam também pela atividade pecuária na região. O cultivo de cana-de-açúcar e erva doce, também tiveram importância para o desenvolvimento da economia do município de Cáceres, sendo a fazenda Ressaca a que mais se destacou neste setor. Sem contar a importância do setor extrativista da borracha, da poaia, nativa da região, mas muito valorizada no mercado medicinal internacional na produção de emetina, vendidas principalmente para Inglaterra e Holanda.
O Professor Natalino Ferreira Mendes, de festejada lembrança, ao contar a história da Administração Municipal de Cáceres, assinalou que na metade do século XIX, os vereadores denominaram para Vila Maria um novo traçado urbano, ou seja, provocavam uma (re)organização espacial com as alterações na estrutura urbana e, a partir de então, constituíram seis ruas, quatro travessas e dois largos, a saber:
RUAS:
1a Rua da Manga (hoje Quintino Bocaiuva)
2a Rua Direita (hoje 13 de junho)
3a Rua Formosa (hoje João Pessoa) 4a Rua do Meio (hoje Antonio Maria) 5a Rua Augusta (hoje Cel. José Dulce) 6a Rua de Baixo (hoje Mar. Deodoro)
TRAVESSAS:
1o DO Mercado (hoje Padre Casimiro)
2a da Esperança (hoje General Osório)
3o da Câmara (hoje Comandante Balduino)
4o do Quartel (hoje Coronel Faria)
LARGOS:
1o da Matriz (Praça Barão do Rio Branco)
2o do Mercado (Praça Major João Carlos).
Como disse no início de minha fala, Cáceres me é cara, ou melhor, caríssima, aqui reside a minha primeira identificação com esta cidade. Tendo vindo de família humilde, restava-me sonhar, pisando firme no chão. Aprendi isto de meus pais: nós somos aquilo que são nossos sonhos.
impossíveis.
Os desbravadores de Cáceres não sonhavam sonhos Esta atitude, no curso de minha vida, também se fez presente. Ai de mim se não me dedicasse, com armas e bagagem, isto é, de mala e cuia, perseguindo o ideal que desde cedo me propus alcançar. Aqui cheguei, em 1975, oriundo de São Paulo, recém formado em Direito, para iniciar a minha carreira de advogado. Cáceres me acolheu prontamente, mais precisamente a Rua XV de Novembro, foi o ponto de partida de minha vida profissional. Aqui convivi com r aprendi com grandes advogados: LADISLAU RAMOS, EVERALDO BATISTA FILGUEIRA, JACQUES SOUTO DA COSTA FARIA, MANOEL ALVARES CAMPOS, OS IRMÃOS ODILON E WILSON VIEGAS MUNIZ, esse vereador por 4 mandatos, E RYOYU HAYASHI e outros.
A minha segunda identificação com esta cidade, reside que me casei com uma Cacerense.
Todo esse encantamento me fraterniza com o povo desta cidade.
Por último, nem por isso menos importante, agradeço-lhes a condecoração recebida. Sinto-me verdadeiramente grato pela generosidade.
Cumprimentando e agradecendo a todos os cacerenses e à Câmara Municipal, na pessoa de seu presidente Vereador LUIZ LANDIM, especialmente o eminente Vereador MARCOS EDUARDO RIBEIRO a quem rendo minhas sinceras homenagens pela sua generosidade em indicar o meu nome, sendo prontamente validado pelos nobres Edis, para receber tão significativa homenagem
Volto para minha casa convicto de que Cáceres, por sua história, mas sobretudo pelo arrojo de sua gente obstinada, inscreveu definitivamente seu nome na história de Mato Grosso. Mais que isso: entrou para a história do Brasil.
Obrigado a todos.
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