O Rio Paraguai, na região do Pantanal, chegou à cota negativa no município de Ladário (MS) — estação de referência. Na última quarta-feira (28-8), foi registrada a marca de -6 cm, sendo que o esperado para este período seria de 3,70 m, conforme indicam dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB). Cenário semelhante só foi observado nos anos mais secos da história.
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Na maioria das estações monitoradas, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as cotas estão abaixo da faixa de normalidade. As informações são apresentadas em novo boletim de monitoramento hidrológico, disponível na plataforma do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Rio Paraguai.
“Historicamente, as mínimas mais baixas são observadas entre setembro e outubro. Contudo, devido à intensidade e à persistência da estiagem, o nível do rio deve continuar caindo, podendo atingir valores próximos às mínimas históricas (entre -32 cm e – 61 cm) no encerramento do período de vazante, que pode ocorrer ao final de setembro ou mais tarde, dependendo de quando começará a estação chuvosa na bacia”, explica o pesquisador em geociências Marcus Suassuna. Modelos de previsão de chuvas de diversas agências, tanto nacionais quanto internacionais, indicam que há uma probabilidade considerável de atraso no início das chuvas na região.
O valor da cota abaixo de zero não significa a ausência de água no leito do rio, mas sim um nível de referência arbitrário adotado para as réguas linimétricas em cada estação de medição. Esses níveis são definidos com base em medições históricas e considerações locais, sendo que, mesmo quando o rio registra valores negativos, em alguns casos ainda há uma profundidade significativa. No caso de Ladário, por exemplo, abaixo da cota zero, o Rio Paraguai ainda possui cerca de 5 metros de profundidade, conforme os dados da Marinha.
No município de Barra do Bugres (MT), a cota atual é de 28 cm, mas o Rio Paraguai já atingiu na estação a marca de 26 cm – a mínima histórica. Em Cáceres (MT), o rio está na marca de 39 cm e chegou, neste mês, a 36 cm – a 2ª menor da história.
Em Cuiabá (MT) e Aquidauana (MS), os níveis estão dentro da faixa da normalidade. A condição na capital mato-grossense ocorre em razão da regularização de vazões, resultado da operação da Usina Hidrelétrica de Manso (UHE), localizada a montante da capital do estado.
Seca impacta região
Os impactos da seca já são evidentes em vários setores. Para a navegação, o baixo nível do rio afeta diretamente a movimentação de embarcações de maior profundidade, que enfrentam dificuldades para navegar em trechos críticos. No setor de saneamento, os níveis baixos dificultam a captação de água e levam à necessidade de implantar bombas flutuantes para manter o abastecimento regular.
Além disso, o meio ambiente também sofre com essas condições, pois a redução do fluxo de água pode intensificar a degradação dos habitats aquáticos e aumentar a concentração de nutrientes, com risco de ocorrência do fenômeno da “decoada”, que implica em elevada mortandade de peixes nos rios do Pantanal.
Apoio aos municípios
A situação demanda atenção contínua, tanto do ponto de vista do monitoramento quanto na implementação de medidas de mitigação para os desafios impostos pela estiagem prolongada. Desde fevereiro, o SGB vem alertando para o cenário de seca no Pantanal, em decorrência do déficit de chuvas na região. Além de realizar o monitoramento, o SGB também apoia os municípios com o Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), em períodos de crises hídricas.
O SIAGAS é um repositório de poços perfurados no Brasil, e sua base tem mais de 371 mil poços cadastrados, com 14 mil poços na Região Centro-Oeste. Disponível para consulta pública, apresenta informações sobre fontes de águas subterrâneas. Desse modo, permite que sejam identificados poços dos quais seja possível extrair água para uso doméstico, industrial, para irrigação ou outras finalidades.
Esse é um projeto de expressiva importância no atual cenário de gestão de políticas públicas, tanto em nível nacional como estadual e sub-regional.
Parceria
O monitoramento dos rios é realizado a partir de estações telemétricas e convencionais, que fazem parte da Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O SGB opera cerca de 80% das estações, gerando informações que apoiam os sistemas de prevenção de desastres, a gestão dos recursos hídricos e pesquisas.
As informações coletadas por equipamentos automáticos, ou a partir da observação por réguas linimétricas e pluviômetros, são disponibilizadas no Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) e, em seguida, apresentadas na plataforma SACE. (Fonte: SGB)
Reprodução: Caldeirão Político
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