Cáceres, 27 de novembro de 2024 - 00:57

“Casa de Cupim” que é 10°C mais fresco de Cáceres é destaque na Globo

 Já pensou em morar em uma casa feita de barro que pode ser uma das soluções para esse calorão e ainda contribuir para a preservação do meio ambiente?

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 Uma família criou um projeto para a construção de casas adaptadas para as mudanças climáticas que podem chegar a 10°C mais frescos se comparado com a temperatura externa. A ‘Casa de Cupim’ foi o piloto desse projeto e fica em Cáceres, a 205 km de Cuiabá.

 O imóvel tem seis cômodos e cerca de 70 m², com cozinha americana, sala, escritório, um quarto, um banheiro e outra sala onde fica um fogão a lenha, além de uma área de serviço externa.

 A Casa de Cupim foi pensada e construída pelo biólogo e bioconstrutor Diego Miguel Carioca de Paula e os pais Sandro Miguel e Sueli Aparecida.

 Foram três meses de obra utilizando técnicas de bioconstrução, como tijolos de latas de alumínio, garrafas pet, argamassa a base de argila e tinta de terra.

 “A casa foi feita também com a ajuda de alguns amigos e familiares no decorrer do percurso. Nós utilizamos hiperadobe, superadobe, garrafas de vidro, técnicas de mangueira de barro, taipa de mão, mosaicos de cerâmica para revestimento, reboco de cal, argamassa com esterco de vaca, trabalhos com madeira de demolição, pneus e a fundação da casa é feita de pneus de caminhão”, disse Diego.

 A hiperadobe é uma técnica onde utiliza a terra limpa sem resíduos orgânicos. Já a superadobe é uma forma de construção com sacos de terra para formar uma estrutura de compressão.

 “Temos uma parede feita com telhas francesas, aquelas antigas, e elas foram reaproveitadas como tijolos. Nós fizemos essa parede inteira com telhas descartadas. Paredes com troncos de madeira e uma parte estrutural dela em bambu. A cobertura é de telha de fibra e cimento, a convencional e piso queimado com ladrilho hidráulico”, explicou.

 A casa usa energia solar on grid, que é um sistema fotovoltaico conectado à rede de distribuição.

 Sobre os valores, Diego explicou que uma casa feita com esses materiais pode ser de 40% a 50% mais barata do que imóveis de construção convencional. Quanto mais mão de obra própria do proprietário, mais barato fica a obra, além do uso de material local.

 A construção da Casa de Cupim

 Mas, e quando chove?

 Diego explicou que, apesar da casa ser de barro, o telhado possui beirais longos para manter a água longe e um alicerce alto para que não pegue umidade. Segundo o bioconstrutor, é o mesmo princípio das casas de alvenaria com proteção contra a umidade nas paredes e no piso.

 “Esses princípios também são aplicados nas casas de terra. Ela pode pegar chuva tranquilo que não tem problema. Um princípio bem interessante da casa bioconstruída é que ela tem que permanecer respirável, como é a matéria natural que você usa para construir, ela respira, então a umidade é regulada pelas paredes de uma forma correta e saudável”, disse.

 Com essas técnicas, a casa pode chegar a 10°C mais fresca se comparada com a temperatura externa, além de ser saudável para pessoas que possuem problemas respiratórios. Diego explica que a justificativa para essa diferença de temperatura é a inversão térmica.

 “Quando está quente no lado externo, na parte interna vai estar mais fresco, e quando está frio na parte externa, dentro da casa vai ter uma temperatura ambiente bem confortável. Tem o ar passando, por isso que casas de terra são muito mais saudáveis para essas pessoas, pois elas mantêm o controle da umidade, de fungos e faz a purificação do ar, as paredes fazem esse trabalho”, disse.

 E como é feita a rede de esgoto?

 De acordo com Diego, o esgoto da casa é direcionado para dois tipos de tratamento ecológico: o círculo de bananeiras e um sistema de bacia de evapotranspiração.

 O círculo de bananeiras é responsável por tratar todas as águas cinzas, que são as que vem da pia, chuveiro e da lavagem de roupas. Já a bacia de evapotranspiração, é uma fossa ecológica. É um sistema totalmente fechado, que recebe o esgoto exclusivamente do vaso sanitário. Todos os dejetos vão para esse sistema que possui um biodigestor e esse material é convertido em nutrientes para o jardim da casa.

 “Nós temos o plantio de bananas e de plantas de folha larga e elas que vão fazer o tratamento final desse esgoto, além de produzir alimento que é livre de contaminação, saudável e muito rico em nutrientes. Mas só podemos plantar árvores que dão frutos porque quem faz o tratamento são as bactérias e fungos que ficam nas raízes da planta”, disse.

 O projeto

 A Casa de Cupim foi projetada pela família há mais de 10 anos e surgiu da busca de desenvolver imóveis que pudessem ser sustentáveis e que ajudassem a resolver problemas atuais como saneamento básico, habitação e produção de alimento.

 “Ao mesmo tempo que a gente pudesse trabalhar com nossas habilidades individuais e se sentir bem fazendo aquilo, morando, construindo casa e através da simplicidade poder resolver esses problemas. É uma busca individual nossa por mais qualidade de vida, realização pessoal e de fazer aquilo que gosta. Além de aprender coisas novas e praticar essas técnicas”, disse Diego.
Após a casa ficar pronta, Diego e a esposa Josiane Carioca construíram um outro imóvel no mesmo terreno, com as mesmas técnicas e próximo a Casa de Cupim, chamada “Bambuba”. O casal mora nesse imóvel atualmente.

 A experiência de construção das casas foram compartilhadas em um blog criado pela família. A história começou a ser compartilhada nas redes sociais e as pessoas começaram a se interessar pelas técnicas.

 “Muitas pessoas mandavam mensagens, e-mails perguntando sobre as técnicas e sobre como fazer. Aqui mesmo na cidade, começamos a receber muitas pessoas curiosas para ver as casas”, disse.
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 Atualmente, a Casa de Cupim é uma casa-escola, empreendimento independente onde a família trabalha com educação ambiental, recebendo turmas de faculdades, escolas, além de fornecer um curso para ensinar essas técnicas. O local também virou ponto turístico do município de Cáceres.

 “É uma experiência sustentável para os visitantes. Além de conhecer o Pantanal, também descobre formas sustentáveis de habitar, construir, produzir comida, de conhecer a bioconstrução. São diversas técnicas que a gente utilizou, testou e foi adaptando para a realidade pantaneira”, contou.
O que é Bioconstrução e Permacultura?

 A Bioconstrução é um termo novo para uma prática antiga que sempre foi utilizado pela humanidade na construção como madeira, bambu, terra, pedras e uma diversidade de outros materiais que podem ser reciclados. As Pirâmides do Egito e os castelos na Europa foram feitos através de técnicas de bioconstrução.

 Casas antigas feitas com tijolos de barro cru, fixados com argamassa à base de argila, cal, areia e pedra também utilizam essas técnicas.

 “Hoje nós temos algumas adaptações para algumas técnicas antigas, algumas melhorias, materiais novos, como no caso do hiperadobe. O que entrou bastante na bioconstrução hoje em dia é essa mescla com materiais reutilizados e reciclados, como garrafas, vidros e metais”, disse.
Porém, Diego explica que essas técnicas precisam ser adaptadas para cada região devido ao tipo de solo e clima do local já que podem influenciar no resultado final.

 “Algumas técnicas que a gente utiliza aqui foram adaptadas para nossa realidade aqui no Pantanal. Às vezes você tem uma técnica de construção do Chile, que é bastante semelhante ao que você gostaria de aplicar aqui, mas algumas questões vão mudar. Daquela receita inicial, sempre precisa ser feito testes para ver o que se adequa melhor ou qual material você tem no seu ambiente”, disse.

 Já a Permacultura é o nome dado para a ciência de design consciente de ambientes. Adaptar construções, habitação e produção de alimentos fazem parte dessa técnica. Além do custo-benefício e preservação dos ecossistemas.

 “Esses são conceitos que a gente sempre tenta transmitir nas rodas de conversa, visitas. Sempre introduzir essa filosofia e adaptação em relação às mudanças que têm acontecido nos ambientes”, disse.

 Reprodução: Caroline Mesquita/G1-MT

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