Por Julio Panoff
MATO GROSSO, Brasil – Dez anos atrás, o Brasil viu surgir um novo tipo de político: alguém que prometia mudar tudo, usando as redes sociais como palco e inflamando a população com discursos diretos e provocativos. Nessa época, muita gente acreditava que finalmente estava nascendo a tão esperada “nova era” na política nacional. Mas o que parecia ser um futuro promissor começou a ruir de forma surpreendente. Hoje, quem lidera o desmoronamento não são as vozes do passado nem grandes partidos: é a Inteligência Artificial.
Nas campanhas recentes, os eleitores buscavam respostas para perguntas dolorosas, como “Quem é o culpado pela minha pobreza?” ou “Por que me sinto tão inseguro?”. E surgiram políticos que se apresentavam como porta-vozes de verdades que incomodam, apontando inimigos específicos e prometendo oferecer o tão sonhado alívio para a indignação acumulada. À medida que esses líderes acendiam a ira popular, a massa encontrava neles uma forma de desabafo coletivo. Fazia parte do pacote um discurso que gritava o que muitos queriam escutar, sem se preocupar com as consequências.
Essa lógica era simples: se as redes sociais premiam o conteúdo que mais circula, então fale qualquer coisa que possa viralizar, provoque polêmicas, amplifique o ódio e consiga curtidas. No auge desse movimento, cada político ganhava fama instantânea e se sentia legitimado pelos compartilhamentos. No entanto, bastava olhar um pouco mais fundo para perceber uma face sombria: junto com a popularidade, crescia também o autoritarismo, a falta de empatia e até o racismo – perigos ocultos por trás da busca desenfreada por atenção.
Eis que a Inteligência Artificial, antes vista apenas como um acessório para produzir textos ou gerar cliques, ressurgiu como peça-chave para devolver à política algo que parecia morto: a conversa quase corpo a corpo. Em vez de disparar manchetes e discursos prontos, a IA passou a explorar diálogos individuais, entendendo cada eleitor em suas carências concretas e devolvendo ao político a arte de ouvir. De repente, uma prática quase esquecida – o contato direto com as pessoas – ficou mais poderosa do que nunca, graças a algoritmos que podem personalizar cada interação.
Talvez o melhor exemplo dessa reviravolta seja o que acontece hoje nos grupos de WhatsApp espalhados pelo país. Ali, políticos conseguem não apenas lançar suas ideias, mas ouvir em tempo real as dores de cada cidadão. As máquinas interpretam as demandas, sugerem abordagens e adaptam discursos a realidades diferentes. Enquanto o antigo modo de fazer política gritava para as multidões, este novo método escuta cada voz, reorganizando prioridades de forma mais genuína.
É paradoxal pensar que a mesma tecnologia que criou robôs para compartilhar fake news acabou trazendo ferramentas para fortalecer o diálogo real e enfraquecer discursos exagerados. Na ânsia de se manter no topo, a “nova era” política subestimou o poder silencioso da IA, que agora revela uma verdade simples: popularidade instantânea não resolve problemas concretos.
Aqui em Mato Grosso, enquanto lavradores e pequenos comerciantes contam seus relatos de pobreza ou insegurança, a política vem renascendo de forma discreta, quase existencial, diante dos olhos de quem não acreditava mais em renovação. É como se a Inteligência Artificial estivesse relembrando a todos que a essência do diálogo não morreu – apenas precisou de um empurrão tecnológico para voltar ao centro das discussões.
No fim, o que se encerra não é apenas um período de discursos inflamados e de caça a culpados. É o enterro de uma era que se sustentava em gritos vazios e holofotes instantâneos. Como em um enredo existencialista, em que a liberdade e a responsabilidade caminham lado a lado, o Brasil passa agora a encarar a dura realidade: se os algoritmos podem espalhar boatos, também podem revelar anseios reais. A Inteligência Artificial, ao mesmo tempo que sepulta a “nova política”, ressuscita uma velha prática que nunca deveria ter sido abandonada – a conversa verdadeira, o olhar humano a humano, mesmo que mediado por linhas de código.
E assim, quando pensávamos que o clamor popular iria nos levar a soluções simples (ou a culpados fáceis), a tecnologia nos oferece uma escolha que antes julgávamos impossível: resgatar a democracia do barulho das redes e devolvê-la, enfim, a quem realmente pertence – o próprio povo.
Sobre o autor
Julio Panoff é especialista em Supply Chain pelo MITx e em Relações Públicas e Institucionais pela Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. Foi líder Global de Comunicação na BRF e fundou o HUB de Inovação da multinacional. Possui mais de 15 anos de experiência em gestão empresarial, marketing e inovação, com foco em unir tecnologia e impacto social.
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