Uma criança indígena de seis anos foi ferida no braço por um ferro de marcar gado, supostamente manuseado por um pecuarista que aluga terras na Aldeia Macaúba, situada na Ilha do Bananal, na divisa de Mato Grosso com Tocantins. O episódio, registrado inicialmente pela Polícia Civil de Mato Grosso no dia 17 de outubro, está agora sob investigação da 57ª Delegacia de Polícia de Pium, em Tocantins, e já foi encaminhado para análise do Ministério Público e da Defensoria Pública.
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De acordo com o relato entregue pela família à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o pecuarista teria se irritado ao ver a criança brincando perto do gado. Ele a agarrou pelo braço e a marcou com o ferro aquecido, deixando ferimentos físicos e traumas psicológicos. A criança correu para os braços da mãe logo após a agressão.
Investigação
Em resposta ao ataque, a Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público iniciaram uma ação judicial para investigar o caso e responsabilizar o autor.
Em entrevista, o diretor de Proteção aos Indígenas da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins (Sepot), Célio Canela, lamentou a violência, traçando um paralelo com práticas da época da escravidão.
“É lamentável que, em pleno século XXI, alguém marque outra pessoa com ferro, algo que remete ao período da escravidão. Tanto indígenas quanto negros foram explorados física e psicologicamente naquela época, e é triste ver isso se repetir”, afirmou Canela, que ressaltou que a secretaria está em constante diálogo com a Defensoria Pública e outras instituições para garantir apoio à família e a devida responsabilização do agressor.
Além disso, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Funai emitiram notas exigindo a punição imediata do pecuarista e questionando a presença de fazendeiros na Ilha do Bananal, que é reconhecida como território indígena. Letícia Amorim, defensora pública e representante do Cimi, enfatizou a posição: “A Ilha do Bananal é território indígena. Não há razão para pessoas não indígenas ocuparem esse espaço”.
Solidariedade e Apelo
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, também expressou solidariedade à família e lamentou o ocorrido, reforçando o compromisso de seu ministério com a proteção dos direitos dos povos indígenas. “O que aconteceu é inaceitável e não deve ser tolerado em nenhum lugar do Brasil. Estamos ao lado da família e do povo Karajá para garantir que justiça seja feita”, declarou Guajajara.
Diante da gravidade do caso, lideranças Karajá exigem que o pecuarista deixe a área em até 30 dias, reivindicação que se alinha ao movimento de retomada e preservação de territórios indígenas. O episódio reacende o debate sobre a presença de atividades agropecuárias em áreas tradicionalmente indígenas e os impactos destas na segurança e integridade das comunidades.
A investigação segue em sigilo, mas a comunidade indígena e organizações de direitos humanos continuam pressionando as autoridades para que o caso seja tratado com a seriedade e urgência que exige.
Fonte: Folha5
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